“O que sempre
fez do Estado um inferno na terra é precisamente que o Homem tentou fazer dele
seu céu.”
Friedrich Hölderlin
Obama edita um discurso no Oval Office da Casa Branca |
Nesta semana os Estados Unidos escolheram Barack Obama para
ocupar a Casa Branca, como fizeram também em 2008. Obama foi reeleito
presidente, e, ao término de seu novo mandato – ou seja, em 2016 – os
Democratas terão ocupado o Executivo por um total de 20 anos desde 1973. Os
Republicanos, em contrapartida, sentaram-se no Oval Office por um total de 24 anos desde esse mesmo ano. Ronald
Reagan, que governou de 1981 a 1988, é o mais lendário republicano a ocupar o
posto: em plena Guerra Fria, venceu as eleições por 525 votos no Colégio
Eleitoral (Obama conseguiu 303 nas eleições do dia 5), e é rememorado até hoje
como um dos grandes gênios conservadores do país.
Mas, afinal, quem é Barack Obama? De que forma ele pensa a
função do governo? Como ele governa? E por que boa parte dos cristãos sérios
nos Estados Unidos votou em favor Mitt Romney, ao invés de Obama?
Será que nossos irmãos da América do Norte estão apenas
ávidos por continuar comendo hambúrgueres, dirigindo SUVs em filas de
Drive-through, usando bonés Ford e
ouvindo música country? Ou será que,
por detrás desses estereótipos cômicos que fazemos do modo de vida americano, na
prática eles sabem o que estão fazendo ao votar nos republicanos?
Um breve voo sobre a mentalidade obamista deixará as coisas
mais claras.
Pretendo trabalhar essa questão em três textos. Neste, o
primeiro, faço uma introdução sobre a mentalidade política de Obama e falo
brevemente o que penso sobre ela. No
segundo texto, mostro as práticas de Obama – inclusive desta última campanha
eleitoral – e algumas das falácias e desvirtuações que julgo estarem presentes
nesse tipo de política. E, em um terceiro texto, tratarei de questões mais
profundas, contrapondo o pensamento político de Obama com a tradição política cristã
e com a Bíblia.
*
Como ninguém faz um diagnóstico cruel da sociedade sem
indicar o remédio, Obama, o Partido Democrata e os "liberals" americanos (nos EUA, liberal é um termo aplicado a quem é de esquerda) trazem
uma receita debaixo de suas mangas: o Estado . O papel do governo é “consertar” os erros do
sistema, protegendo os oprimidos, cobrando impostos dos mais ricos,
distribuindo a riqueza, e contraindo empréstimos até não poder mais. Esses
recursos intermináveis – dinheiro tirado à força dos cidadãos – é aplicado em
uma miríade de investimentos públicos sem fim: burocracia, ministérios,
departamentos, secretarias, ONGs... Os funcionários públicos, nesse tipo de
ideologia, são como arquitetos: fechados em escritórios até altas horas da
madrugada, ocupam-se de projetar, manipular e articular os caminhos de uma “sociedade
justa e igualitária”, por mais abstrato e metafórico que essa expressão possa
ser.
Esses arquitetos do governo, mestres da engenharia social,
são pessoas que conseguem se libertar da alienação capitalista, conseguem ver
além dos meros interesses pessoais, e, por isso, merecem o poder para engendrar
uma sociedade da forma como eles entendem que ela deva ser. Por isso eu disse acima: esse tipo de
pensamento supõe que as pessoas sejam
essencialemente boas mas estejam corrompidas por um sistema ruim. Se o ser
humano fosse mal por natureza, é evidente que o governo não seria uma solução,
pois seria composto pelos mesmos interesses nefastos que se manifestam nas
elites econômicas, financeiras, e etc. Mas não é assim que funciona nesta
ideologia. Os arquitetos sociais do governo merecem o poder, por estarem
movidos pelas intenções puras e por um entendimento lúcido e correto de como a
sociedade funciona.
Esta ideologia política, que assim entende a natureza humana e a
natureza do governo, tem vários nomes (aqui no Brasil dizemos “esquerda”), mas,
para evitar desentendimentos com algumas definições da ciência política, eu a
chamarei nessas linhas de estatismo. E Obama é um estatista de
primeira ordem.
O estatismo
é uma forma de pensamento político herdeira do socialismo. O auge do socialismo na
política econômica foi nos anos 30 e 40, mas minguou-se depois da II Guerra
Mundial, quando, depois de duas guerras mundiais, duas bombas atômicas e uma série de genocídios em massa praticados por Estados, a descrença na benevolência do ser humano atingira níveis altos demais para
utopias governamentais. Porém, hoje em dia, o defunto socialismo pulverizou-se
e ressurgiu-se em uma série de ideologias menores, sutilmente diferentes entre
si, mas muito presentes no pensamento político atual: o ecologismo, o populismo
nacionalista latino-americano, o eurasianismo
russo, o progressismo big government europeu
(social democracia). Todos estes carregam, como que em pesadas carroças, a
mesma antiga mentalidade, a mesma forma de compreender o mundo: aquela em que
boas pessoas estão sendo pervertidas por um sistema econômico ruim. Aquela onde
deve-se fortalecer um órgão neutro, imparcial e poderoso que tenha poder para
consertar a sociedade e torná-la justa e apropriada. O aumento do poder ao
Estado – mesmo com todas as dívidas públicas e atrasos econômicos que isso
acarreta – é a ordem do dia do estatismo.
A questão, é claro, não é diagnosticar que a sociedade humana
possui uma série de problemas e injustiças. Ela é problemática ao extremo, e
todos os cristãos sabem disso. Entretanto, o Cristianismo não coloca a raiz do
mal no sistema econômico, por mais capitalista que ele seja. A Bíblia é precisa
em apontar a origem de nossos problemas sociais no coração de todo ser humano decaído pelo pecado. Portanto, nenhum
governo é capaz de mudar isso. Não há Estado redentor, não há pessoas
desinteressadas ocupando o Palácio do Planalto, não há Casa Branca que faça
milagres. Não há um grupo de pessoas que, incumbidas de poder onisciente e
onipresente, são capazes de construir uma sociedade plenamente justa e gerar
igualdade total.
Uma vez que o problema está no homem, e não no sistema, dar a
certos indivíduos o tipo de poder requisitado pelo estatismo é um grande
equívoco.
Adam Smith, pai do liberalismo econômico clássico e cristão
reformado, descreveu, com uma ironia que lhe é típica, o perigo do estatismo:
O homem de
estado que se esforce para dirigir indivíduos na forma como devem aplicar seus
capitais, estaria não só carregando a si mesmo de uma atenção muito
desnecessária, mas assumindo uma autoridade que não pode ser confiada com
segurança a nenhum conselho ou senado que seja, e que não seria tão perigosa em
nenhum outro lugar quanto nas mãos de um homem que teve a loucura e a presunção
de se julgar apto a realizar essa tarefa.
Afinal, o homem, em sua natureza decaída, é imutável. Isso o
torna eternamente incapaz de sentar na cadeira de praia de sua casa de campo e projetar uma sociedade
plenamente justa, como se fosse o redentor da humanidade, um ente capaz de distribuir justiça. Aliás, torná-lo um “arquiteto” de humanidades trará apenas mais coerção e autoritarismo, pois é impossível construir um edifício sem forçar
as vigas em seus lugares, sem controlar as fundações e as pilastras. É
impossível fazer da sociedade um laboratório de experiências sociais sem
manusear seus elementos intrínsecos como se fossem beckers, tubos e frascos de
vidro.
Mas Obama não concorda conosco!
(continua...)
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